Num momento em que ainda recuperamos da pandemia provocada pela Covid-19, a profunda crise climática adensa-se a cada dia que passa e novas crises ameaçam agravar ainda mais os seus impactos, expondo as fragilidades do sistema vigente e deixando milhões à beira do desemprego, da precariedade e da pobreza. Sabemos que a solução da crise climática passa por uma transição energética justa que ponha fim à utilização de combustíveis fósseis, que reconfigure os meios de produção e as formas como consumimos, que garanta soberania energética e democracia produtiva e que crie empregos dignos, possibilitando emprego a centenas de milhares de pessoas em serviços públicos que gerem benefícios comuns. No entanto, os nossos governos e as grandes empresas continuam a dar prioridade ao lucro e a aprofundar a degradação dos ecossistemas indispensáveis para o nosso futuro. Perante isto, não podemos ficar de braços cruzados!
O oceano cobre quase 3/4 do planeta, mas estamos apenas a começar a conhecer devidamente os seus ecossistemas e os impactos que têm nas nossas vidas. O ambiente marinho gera até 2/3 dos serviços ecossistémicos fornecidos pela natureza, produz metade do oxigénio que respiramos e absorve entre 30 a 50% do dióxido de carbono libertado pela queima de combustíveis fósseis. A par disso, estima-se que até três mil milhões de pessoas dependam do oceano para subsistir, a larga maioria destas vivendo em países em desenvolvimento.
Todas as crises e múltiplos pontos de rutura que enfrentamos têm continuidade e repercussões nos mares e em todos os seus biótopos – das profundidades abissais aos gelos das regiões polares, passando pelos atóis coralinos tropicais – bem como em todas as pessoas que deles dependem para se alimentar, respirar, prosperar e encontrar bem-estar. Se, por um lado, sabemos que o ambiente marinho e todas as populações e atividades que dele depende são particularmente vulneráveis, por outro sabemos que o bom estado ambiental do oceano será essencial para lidarmos com as alterações climáticas, conforme reconhecido no Relatório Especial sobre os Oceanos e a Criosfera do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas.